Como bolhas de filtro moldam o marketing político
- Sunê

- 26 de nov.
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Durante anos, consolidou-se a ideia de que as plataformas digitais criam bolhas de filtro que isolam indivíduos, reforçam vieses e radicalizam comportamentos políticos. A tese ganhou apelo no debate público porque oferece um culpado simples: “o algoritmo”. Essa narrativa é conveniente, mas incorreta. Quando se observa a literatura científica, os dados das próprias plataformas e os padrões de consumo de informação no Brasil e no exterior, surge uma conclusão mais sóbria: a bolha começa no usuário, não no sistema. O algoritmo só acelera um movimento que já estava em andamento muito antes da tecnologia se tornar central no cotidiano.
Esse ponto raramente aparece nas discussões porque exige admitir que o isolamento informacional não é um acidente técnico, mas uma escolha humana. A psicologia social reconhece esse comportamento há décadas. Em 1957, Leon Festinger formulou o conceito de viés de confirmação, descrevendo a tendência de indivíduos buscarem conteúdos que validam crenças prévias e evitarem aquilo que produz desconforto cognitivo. A teoria nasceu quase meio século antes de qualquer rede social operar um sistema de recomendação. Isso significa que a preferência por ambientes homogêneos, coerentes e confortáveis é anterior à lógica algorítmica. A tecnologia apenas automatizou o que as pessoas já faziam manualmente.
