Por que o BBB26 já começa com cheiro de fracasso
- José Nicolau
- há 6 dias
- 4 min de leitura
Nunca fui o maior fã de BBB. Eu não consigo deixar de olhar como um produto de mercado, artificial. Quando vejo o tamanho do faturamento, a quantidade de marcas envolvidas e a forma como o programa virou uma vitrine corporativa gigante, fica fácil entender por que o BBB26 já chega pesado, engessado e distante do público. O reality continua movimentando cifras absurdas, mas perde impacto a cada temporada. Esse contraste é o que me faz enxergar o BBB26 com cara de fracasso anunciado.

O que mais me chama atenção é a diferença absurda entre faturamento e engajamento. O BBB25 arrecadou mais de um bilhão e meio de reais só em patrocínios e ações comerciais, com cotas que chegavam a mais de cem milhões, e um número alto de marcas grandes disputando espaço no programa. Isso mostra força comercial, mas também mostra uma dependência enorme dessas entregas, que ocupam praticamente todos os blocos do programa. A Globo precisa cumprir tudo o que vende, e isso transforma o BBB num show de ativações o tempo todo, deixando o entretenimento em segundo plano e quebrando totalmente o ritmo do reality.
Quando eu olho para o BBB26, a tendência é a mesma. As marcas entram pesadas, a Globo garante retorno e exposição, e o programa fica com menos espaço para criar momentos marcantes, menos liberdade para buscar narrativas que façam barulho e menos chance de entregar algo realmente envolvente. O BBB virou o ambiente mais seguro para o mercado publicitário no Brasil. Todo mundo sabe que ali ninguém quer risco, ninguém quer polêmica e ninguém quer pauta complicada. Esse comportamento gera um reality limpo demais, controlado demais e irritantemente previsível, o que afasta o público e esfria as conversas nas redes sociais.
O espectador sente quando o programa fica empacado. O BBB25 teve a menor audiência da história e isso já é um sinal forte. As pessoas estão procurando outra energia, outro ritmo e outro tipo de entretenimento. O consumo hoje é rápido e direto, com vídeos curtos, cortes precisos, picos constantes de atenção e conteúdos que já nascem prontos para viralizar. O BBB, do jeito que está, tenta manter uma estrutura de três meses com desenvolvimento lento e com longas partes do programa que não levam a lugar nenhum. Quando o público se desconecta no começo da temporada, é muito difícil retomar o interesse depois.
Outro ponto que me faz acreditar que o BBB26 deve repetir o fracasso é a forma como as marcas ocupam tudo dentro do programa. Não é só intervalo comercial. É dentro da casa, nas dinâmicas, nos quadros, nas festas, nas provas, nas comidas e até nas conversas. O programa inteiro virou uma grande vitrine. Quando isso acontece, a experiência deixa de ter alma. O espectador percebe que está vendo um conjunto de entregas, e não uma temporada viva cheia de momentos inesperados. Essa sensação derruba o envolvimento, reduz a identificação com os participantes e deixa tudo com cara de campanha publicitária longa demais.
