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Criatividade é gestão de risco

  • Foto do escritor: José Nicolau
    José Nicolau
  • 17 de nov.
  • 2 min de leitura
Sempre me intrigou a forma como algumas pessoas parecem “ter sorte” no trabalho criativo. Ideias certas, no momento certo, com o público certo. Mas, quanto mais observo, mais percebo que sorte não é aleatória. Ela tende às mentes conectadas.

Steven Johnson descreve isso com precisão em 'De Onde Nascem as Boas Ideias'. As grandes descobertas não surgem de um lampejo isolado, mas de ambientes férteis: redes onde informações, perspectivas e estímulos se cruzam até que algo novo emerge. Em marketing, essa dinâmica é visível. As melhores ideias aparecem quando dados, comportamento e intuição se encontram.
A sorte tende as mentes conectadas
A sorte tende as mentes conectadas


No fim das contas, criar é administrar incerteza. É entender que o acaso pode ser preparado. Ideias não nascem de silêncio; nascem de fricção, de colisões entre referências que antes pareciam distantes. Quanto mais variáveis entram em contato, maior a chance de combinação improvável. Isso é gestão de risco aplicada à criatividade: ampliar o espaço onde o acaso pode agir sem comprometer o sistema.

O erro é pensar criatividade como iluminação. Ideias raramente surgem de um único momento de inspiração. Elas se acumulam lentamente até atingir um ponto crítico. Um insight é o resultado de muitas tentativas, de conexões parciais que de repente se encaixam. O que chamamos de sorte é, na verdade, um ambiente mental que favorece coincidências significativas.

Quando penso em processos criativos, vejo que os times mais consistentes são os que tratam a incerteza como parte do método. Eles não tentam eliminar o risco, mas tentam mapear ele. Criam espaço para experimentos, testam hipóteses, aceitam o erro como dado de pesquisa. O improviso deixa de ser instinto e se transforma em estratégia. Criatividade sem método é ruído. Método sem risco é repetição. O equilíbrio está na interseção entre os dois. O profissional criativo precisa operar como um analista: observar padrões, prever desvios, decidir quando vale a pena expor a ideia ao acaso. A intuição, nesse contexto, é leitura probabilística disfarçada de feeling.

Em campanhas, isso se traduz de forma clara. Ações que parecem espontâneas quase sempre são fruto de preparação meticulosa. A intuição de “falar naquele momento” vem de entender o timing do público, o ciclo da atenção, o humor social. Nada disso é adivinhação. É análise combinada com sensibilidade.

Eu gosto de dizer que a criatividade é probabilidade emocional. É aumentar a chance de algo extraordinário acontecer por meio de exposição deliberada ao incerto. Ideias fortes surgem quando o método dá espaço ao acaso e o acaso encontra mentes preparadas.

A sorte é consequência de redes vivas, pessoas curiosas e sistemas abertos. Criar é cultivar esse terreno, onde o imprevisto não assusta, apenas confirma que ainda existe espaço para o novo.
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