O verde do Google e a lógica do imprevisível
- Sunê

- 11 de nov.
- 3 min de leitura
A logo do Google parece simples, quase ingênua. Um conjunto de letras coloridas, cores primárias dispostas em sequência: até que um verde interrompe a ordem. Esse detalhe, decidido pela designer Ruth Kedar no fim dos anos 1990, sempre chamou atenção de quem olha com atenção. Não porque é bonito, mas porque é simbólico. O verde fora da sequência representa o que o próprio Google fez desde o início: operar dentro da lógica, mas questionar o padrão.

Essa ideia visual serve como ponto de partida para algo mais amplo. Todo sistema eficiente corre o risco de se tornar previsível demais. Toda estrutura sólida, se levada ao extremo, acaba rígida. E toda organização que busca eficiência acaba flertando com a perda da curiosidade. O verde, nesse sentido, é mais do que uma cor, é um lembrete. Ele mostra que a inovação nasce quando alguém decide introduzir um pequeno desvio dentro de uma sequência previsível.
Em marketing, a tendência natural é padronizar. Buscar frameworks, replicar cases, reproduzir fórmulas que já deram certo. É assim que se ganha escala e previsibilidade. Mas é também assim que se perde frescor. A dissonância: aquele ponto fora da lógica, é o que devolve vitalidade às marcas. É o ponto que quebra a monotonia e desperta atenção. Em música, é a nota que tensiona a harmonia. Em design, é o espaço negativo que dá sentido à forma. Em comunicação, é a pausa que cria ênfase.
A inovação acontece quando uma marca entende que coerência não significa monotonia. Significa ter um núcleo estável o bastante para permitir desvios inteligentes. É esse desvio que sinaliza autenticidade, e que transforma uma campanha previsível em uma mensagem viva.
A rotina dos dados pode anestesiar o pensamento. É fácil cair na armadilha da métrica perfeita: CTR, CAC, ROI. Tudo mensurável, tudo lógico. Mas o comportamento humano raramente é linear. Um pico de tráfego não é apenas resultado de um bom criativo ou de uma segmentação eficiente. Pode ser efeito de curiosidade, timing ou até de um sentimento coletivo difícil de medir.



