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Por que a parceria entre Fortnite e Simpsons é o melhor case da indústria

  • Foto do escritor: Sunê
    Sunê
  • 15 de nov.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 17 de nov.

Quem está próximo de mim sabe o tempo que eu invisto jogando videogame. Inclusive já trabalhei numa empresa de softwares voltados para jogos, que organizava partidas justamente de Fortnite. Quando a Epic anunciou a collab de Simpsons com o Fortnite, resolvi dar uma chance ao jogo. Afinal, eu mesmo não jogava uma partida desde 2017.E, sendo honesto, esse nunca foi exatamente meu jogo. A estética sempre me pareceu infantil demais, mesmo curtindo mais jogos de estratégia, até jogo outros jogos de tiro em primeira pessoa (FPS)... Fortnite nunca me pegou. Agora essa collab foi diferente... realmente diferente.

Abri o jogo esperando olhar cinco minutos, ver a skin do Homer, brincar um pouco e fechar. Só que, quando entrei em Springfield, o impacto foi imediato. Dá pra perceber que Fortnite não tava usando só os Simpsons como mais uma marca de decoração: tava transformando um universo inteiro em ambiente de jogo. E isso claramente vai mudar tudo.


Collab Fortnite x Simpsons
Collab Fortnite x Simpsons

Particularmente, eu assisto The Simpsons desde 2004. A ideia de caminhar por Springfield sempre existiu na minha cabeça como fantasia distante, algo que nunca ia acontecer fora de um jogo dedicado, ou de um RPG caríssimo que sozinho provavelmente nunca iam produzir (não sei nem se venderia o suficiente). Só que, de repente, ali estava a cidade. Reconhecível. Funcionando como mapa. Igualzinho como eu imaginava quando era pequeno.

Springfield funciona. É bonito, é nostálgico. Funciona como level design A usina, o centro e o camp Krusty, Evergreen Terrace... A escala foi convertida do 2D exagerado da série para um mundo 3D competitivo com precisão surpreendente, sem perder identidade. Esse tipo de decisão revela mais do que cuidado gráfico: revela domínio técnico. Mostra que a Epic olhou para The Simpsons como material de engenharia, não como tema decorativo. E isso, como jogador e como alguém que trabalha com marketing, me pegou de varias formas diferentes. Baixei por curiosidade e, em poucas partidas, já estava completamente envolvido.

O que aconteceu comigo é exatamente o que a Epic queria provocar. Sou o tipo de usuário que eles precisavam reconquistar: alguém que já conhecia o jogo, que não tinha afinidade estética, que não jogava desde 2017, mas que tem histórico com a franquia e que avalia experiências digitais com uma régua alta. Ou seja, um consumidor "difícil". E mesmo assim, entrei “só para testar” e me vi ficando. Do ponto de vista comportamental, isso é importante por um motivo simples: quando uma pessoa entra sem intenção de engajar e termina engajando, houve eliminação de fricção. A collab derrubou objeções. A experiência operou como funil.E eu senti isso na prática.

Primeiro, a curiosidade vira entrada. O fato de Springfield ser gratuita reduz o risco percebido. Mesmo alguém que não jogava há anos sente que “vale abrir pra ver”. Baixar sem compromisso é o que eu fiz, e é o que milhares de consumidores fazem quando a barreira inicial é baixa.
Depois, a nostalgia funciona como gatilho de memória afetiva, mas só segura se houver entrega sólida. Não basta mostrar o Homer. A pessoa precisa sentir que está no lugar certo. Springfield entrega exatamente isso: é fiel sem ser travada; é adaptada sem perder essência.

Logo em seguida vem o ponto mais estratégico: imersão vira permanência. A experiência é construída para que o jogador explore, perceba detalhes, encontre rotas, descubra pontos escondidos. A sensação de “deixa eu jogar mais um pouco” é comportamento típico de produto bem estruturado, não de campanha.

E, finalmente, o mais importante de tudo, o efeito mais raro em marketing digital: permanência vira conversão espontânea. Eu comprei o passe de batalha (uma espécie de assinatura para obter recompensas, estritamente cosméticas e não afetam o desempenho no jogo). Não por FOMO (medo de ficar de fora), não porque o jogo me empurrou uma oferta, não porque algo piscou na tela. Comprei porque a experiência inteira me passou a sensação de que aquela compra tinha valor real. Claro que tiveram incentivos durante a jornada, mas eu, que mesmo não sendo o maior fã do estilo, tomei uma decisão "racional" e fiz a compra de R$33 para conseguir a skin do Homer Simpson =)

Se você olhar por essa ótica, percebe que este é o ponto máximo da eficácia de uma collab: quando ela muda comportamento, altera intenção e cria engajamento onde não havia nada. Tudo isso sem forçar, sem pressionar, sem depender de publicidade externa (embora eu tenha sido impactado algumas vezes inclusive com publicidade orgânica do jogo).

A Epic conseguiu transformar um público adormecido em público ativo, usando uma estratégia simples e ao mesmo tempo sofisticada: entregar uma experiência tão consistente que o consumo se torna consequência, não objetivo. Isso resume o que o mercado ainda não entendeu sobre collabs: quando bem executadas, elas não servem para gerar alcance. Servem para gerar comportamento. Isso é muito mais difícil de construir... e infinitamente mais valioso.
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